Raimundo Ferreira Lima
O sindicalista Raimundo Ferreira Lima, mais conhecido como "Gringo", foi assassinado em 29 de maio de 1980. Alguns meses antes, ele havia sido eleito presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia (PA), no sul do estado. Sua chapa desbancou Bertoldo Lira, candidato da situação, mais próximo da polícia e dos poderosos da localidade.Gringo era agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e lutava pela reforma agrária na região.
Há 28 anos, no caminho de volta de um compromisso em São Paulo (SP), Gringo parou para pernoitar em Araguaína, que hoje pertence ao Tocantins. No dia seguinte, retornaria a São Geraldo do Araguaia, na época um distrito do município de Conceição do Araguaia (PA).O intervalo para repouso, todavia, acabou se tornando eterno. Gringo foi seqüestrado do hotel em que dormia e levado para uma estrada fora da cidade, onde foi assassinado a tiros. Um dia antes, o padre Ricardo Rezende Figueira, então diácono, declarara em entrevista coletiva em Brasília (DF) que havia seis ameaçados de morte na região. Um deles era Gringo.
Maria Oneide Costa Lima, mulher de Gringo, tinha 29 anos quando ficou viúva. "Eu não sabia nem o que fazer, não tinha nenhum grau de estudos para conseguir um emprego, com seis filhos nas costas pra criar", recorda.
Hoje, Maria Oneide é diretora de uma escola pública que leva o nome do homem com quem foi casada, "Raimundo Ferreira Lima", em São Geraldo do Araguaia (PA). Estudantes da escola fizeram duas apresentações durante a Mostra Artística das Comunidades em Araguaína (TO), durante o Festival da Abolição, realizado de 12 a 17 de maio no norte do Tocantins. A organização do evento - composta por CPT, Repórter Brasil, Centro de Direitos Humanos de Araguaína (CDH), Pastoral da Juventude Rural (PJR), entre outras entidades - prestou uma homenagem especial à Oneide.
A história da morte de Gringo é semelhante ao que aconteceu com a missionária Dorothy Stang, assassinada em fevereiro de 2005. Nos dois casos, um grupo de "interessados" na execução montou um "consórcio" para pagar pistoleiros que acabaram com as vidas do sindicalista de São Geraldo e da irmã norte-americana em Anapu (PA). No caso do marido de
Oneide, prefeitos da região, o então deputado estadual - e hoje deputado federal - Giovanni Queiroz (PDT-PA), além de Neif Murad e outros fazendeiros locais foram apontados pela imprensa como supostos mandantes do crime. A notícia do assassinato de Gringo e da formação do consórcio criminosos saiu em vários jornais como paraense O Liberal, além d´O Estado de S. Paulo, que tinha o jornalista Lúcio Flávio Pinto como correspondente no Pará. "Havia a notícia da reunião [dos mandantes que montaram o consórcio], mas ninguém falou ´eu vi´", lembra o editor do Jornal Pessoal. Até hoje não houve julgamento para quem matou Raimundo Ferreira Lima. "O processo foi engavetado, nunca foi levado para frente, nunca foi feito nada para que o verdadeiro culpado pagasse", diz a viúva Oneide. O processo sobre o caso chegou a ser instaurado na Justiça de Conceição do Araguaia, mas acabou engavetado por falta de provas. "Não conseguiram provas. Naquela época era muito precária a investigação.