Padre Josimo Tavares
Padre Josimo Morais Tavares, defensor dos lavradores, foi assassinado em Imperatriz. Em um artigo antológico o jornalista Oswaldo Viviani lembra-nos o episódio. Leia abaixo: “Tenho que assumir. Estou empenhado na luta pela causa dos lavradores indefesos, povo oprimido nas garras do latifúndio.
Se eu me calar, quem os defenderá? Quem lutará em seu favor?
Eu, pelo menos, nada tenho a perder. Não tenho mulher, filhos, riqueza… Só tenho pena de uma coisa: de minha mãe, que só tem a mim e ninguém mais por ela. Pobre. Viúva. Mas vocês ficam aí e cuidam dela.
Nem o medo me detém. É hora de assumir. Morro por uma causa justa. Agora, quero que vocês entendam o seguinte: tudo isso que está acontecendo é uma conseqüência lógica do meu trabalho na luta e defesa dos pobres, em prol do Evangelho, que me levou a assumir essa luta até as últimas conseqüências.
A minha vida nada vale em vista da morte de tantos lavradores assassinados, violentados, despejados de suas terras, deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar”.
Quase toda semana, o padre Josimo, sacerdote da diocese de Tocantinópolis e pároco da pequena São Sebastião do Tocantins (município do então estado de Goiás), subia aquela escadaria para reunir-se com agentes pastorais, religiosos e advogados. Sua luta: defender os lavradores, constantemente ameaçados por grileiros nos inúmeros conflitos agrários que se espalhavam pela região do Bico do Papagaio (área que abrange o norte do atual estado do Tocantins, o sul do Pará e o sudoeste do Maranhão).
Naquela semana de maio, o clima era tenso em toda a região do Bico do Papagaio. No dia 6 de maio, havia acontecido um conflito armado entre posseiros e grileiros, com morte de Sebastião Teodoro Filho, irmão de Osmar Teodoro da Silva, um vereador do PMDB de Augustinópolis (no então estado de Goiás, hoje Tocantins).
O próprio padre Josimo sofrera, no dia 15 de abril, um atentado a bala, na estrada entre Augustinópolis e Axixá, quando se dirigia para Imperatriz. O pistoleiro acertara somente a porta da caminhonete Toyota.
Naquele sábado de maio, porém, o pistoleiro – Geraldo Rodrigues da Costa, o mesmo que atentara contra a vida do padre semanas antes – o aguardou na calçada do prédio onde ficava a CPT.
Josimo já havia subido o primeiro lance da escadaria quando Geraldo, a 5 metros do padre, chamou por seu nome, já apontando para as costas do padre seu Taurus calibre 7.65. Josimo se voltou e recebeu dois tiros. A primeira bala raspou em seu ombro direito e foi alojar-se na parede. A segunda perfurou o rim e o pulmão e saiu pelo peito.
Duas horas depois de ter sido baleado, Josimo Morais Tavares, o “padre negro de sandálias surradas”, como os lavradores o identificavam, morreria, se transformando num dos maiores mártires da luta pela terra no Brasil.
Matador e mandantes condenados – O crime de pistolagem que vitimou o padre Josimo é um caso raro no Brasil em que mandantes e executor foram presos e julgados, mesmo que alguns tardiamente. Os envolvidos, em sua maioria, foram condenados.
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