Uma história difirente - Pe. Paulo Gozzi,SSS
As Igrejas orientais, tanto as Ortodoxas como as Apostólicas, tiveram uma história diferente da Igreja no Ocidente. Essas Igrejas sofreram muito com a expansão do Islamismo. Em alguns lugares os cristãos quase desapareceram. Muitos foram dominados pelo Comunismo e só agora estão saindo da heróica situação de resistência e de humilhante submissão a leis discriminatórias. Mas nunca tiveram revoltas contra a hierarquia, nem divergências doutrinárias. Nunca se contestou qualquer verdade de fé ou qualquer sacramento, mantendo intacta a sucessão apostólica. Nesse sentido, foram e são sempre Igrejas completas.
Já a Igreja Ocidental teve uma experiência histórica e cultural totalmente diferente. Surgiram novas nações e novos idiomas, houve confrontos de autoridades políticas e religiosas, centralização do poder nas mãos do bispo de Roma pela necessidade de fortalecer a autoridade eclesial diante de tantas arbitrariedades do poder civil. Todas essas coisas e mais a decadência moral dos pastores, que se deixaram influenciar pela corrupção generalizada do poder, provocaram a revolta e o protesto daqueles que desejavam uma religião mais pura, que voltasse às origens na obediência à Palavra de Deus e na santidade de vida.
De toda essa amarga situação surgiram movimentos que se tornaram conhecidos pelo nome de Reforma Protestante. Sabemos quão violentas foram as reações de todos os lados do conflito, mobilizando forças políticas, econômicas e militares para resolver o problema. As Comunidades cristãs se dividiram e se isolaram em clima de guerra. Nesse mesmo clima os fundamentos da fé e os sacramentos foram atingidos em suas bases, alterados e reinterpretados por reformadores entusiastas, que idealizaram uma Igreja sem autoridades corruptas e com doutrinas mais espirituais do que filosóficas.
O resultado é o que vemos hoje: Comunidades cristãs divergindo profundamente da Igreja de Roma, como também possuindo grandes diferenças entre si. Esse processo de divisão e subdivisão de comunidades cristãs durou quinhentos anos e está se estabilizando aos poucos. O processo de reversão desse quadro de total desagregação do cristianismo ocidental começou justamente entre os que estavam mais feridos pela desunião: os cristãos vindos da Reforma Protestante. O movimento ecumênico nasce e se desenvolve justamente no Ocidente, e o desejo de paz e união move os corações, sob a influência do Espírito Santo.
O século XX foi marcado por essa presença sempre mais forte do Espírito divino que está atingindo todos os cristãos, inclusive os orientais, no desejo de paz. João Paulo II diz que as “próprias amargas experiências da divisão no passado nos obrigam e impelem a abandonar essas divisões para buscar e reencontrar a unidade” (Ut unum sint, 65).