Da menor à maior comunhão - Pe. Paulo Gozzi, SSS
Há pouco tempo assistimos à grande tragédia causada por chuvas e deslizamentos de terra. Tantas mortes e desabrigados! A imagem vista do alto era desoladora... A sociedade se mobilizou para amenizar tanta dor! Ninguém pode ficar indiferente diante de tal drama. Para as pessoas de fé, o Espírito Santo é quem toca os corações, sensibilizando-os com o amor solidário. Se contemplarmos a Igreja bem do alto vamos ter uma visão parecida: Um campo devastado pelas brigas e divisões, áreas isoladas, mortes e desamparo. E o mesmo Espírito está sensibilizando os cristãos para que iniciem a reconstrução e sejam reintegrados na comunhão que o Senhor sempre quis para seus discípulos.
A tarefa do movimento ecumênico é reunir os cacos do vaso quebrado colando-os com o amor fraterno, sem deixar nenhum fragmento perdido. As Comunidades cristãs estão dialogando e seus membros se relacionando. Na medida em que o diálogo evolui estão descobrindo o grau de comunhão que já existe entre elas. Este é o ponto de partida para que se comece a resgatar e recuperar os bens dispersos, alguns perdidos, recolocando-os em seus devidos lugares. Dizia João Paulo II: “O Senhor concedeu aos cristãos do nosso tempo a possibilidade de reduzir o contencioso tradicional” (Ut Unum Sint, 49). Isso quer dizer que, passo a passo, todas as questões pendentes vão encontrando uma solução e aumentando o grau de comunhão existente.
Tomemos como exemplo as duas grandes Tradições: a Romana, liderada pelo bispo de Roma e a Ortodoxa, liderada pelo bispo de Constantinopla, hoje Istambul. Por mil anos mantiveram-se em comunhão plena, mas ao longo desse mesmo período as relações mútuas foram se deteriorando, até culminar nas excomunhões recíprocas de 1054, atos jurídicos e canônicos que reduziram a zero o grau de comunhão. Por novecentos anos os dois grupos mantiveram-se isolados. A partir do convite de João XXIII, os orientais retomaram os contatos, intensificando gradualmente as relações mútuas conosco até o ponto de serem supressas as duas excomunhões, pelos dois grandes líderes: Paulo VI e Atenágoras I, no dia 7 de dezembro de 1965, pondo fim ao doloroso cisma.As comissões de diálogo com todas as Igrejas Ortodoxas, que estão em comunhão plena entre si, os constantes encontros e celebrações em comum, o reconhecimento de todos os bens espirituais e sacramentais, e especialmente a sucessão apostólica, mostram-nos que falta pouco para a plena comunhão das Igrejas do Ocidente e do Oriente. Em pouco tempo vimos um crescimento enorme da menor à maior comunhão, uma comunhão quase plena. Quem acompanha de perto esse progresso pode dizer tranquilamente: “Estamos amparados pela luz e pela força do Espírito Santo” (Ut Unum Sint, 61).