Igreja Única e Unida - Pe. Paulo Gozzi, SSS
O Pe. José Bizon, coordenador do Movimento ecumênico em São Paulo, foi também assessor da CNBB em Brasília e ocupava o mesmo cargo que eu ocupei de 1973 a 1975. Ele me pediu que fizesse uma nova tradução, mas em linguagem popular, do Decreto do Concílio Vaticano II sobre o Ecumenismo: Unitatis Redintegratio - “A REINTEGRAÇÃO DA UNIDADE DE TODOS OS CRISTÃOS”. As palavras são muito difíceis de serem entendidas por todos. Da mesma forma que aconteceu com o documento sobre Liturgia, a nova tradução desse documento ecumênico serviria para comemorar seus 40 anos de publicação. Fiz o trabalho com entusiasmo e fidelidade total ao texto original, o que não é fácil, tratando-se de linguagem simples do povo e não teológica.
A tradução foi analisada, comparada aos originais e, finalmente, conseguiu-se a aprovação. Mesmo tendo passado o ano comemorativo, a CNBB publicou o trabalho em 2005, completando-o com um magnífico comentário do Decreto, apresentando as conseqüências para a pastoral de toda a Igreja Católica. É um livrinho singelo e elucidativo, que todos os que não estão habituados à linguagem teológica podem usufruir com muito proveito espiritual e pastoral. Espero que todos leiam com muito amor e vejam como o Ecumenismo é essencial para a vida da Igreja e de todos os Cristãos.
Eis como o Concílio Vaticano II vê a ligação entre nós e os cristãos não católicos: “Desde o princípio da Igreja, que era única e unida, começaram a aparecer desentendimentos. O Apóstolo Paulo condena esse comportamento (1Cor 1,11ss; 11,22). Mesmo assim, com o passar do tempo, brigas ainda maiores foram aparecendo. Eram grandes comunidades que se separavam do conjunto da Igreja católica, em geral, por culpa dos dois lados. Mas agora, os que nascem nessas comunidades separadas de nós e vivem da fé em Cristo, não podem ser acusados do pecado da separação. A Igreja católica abraça esses irmãos com muito respeito e amor. Aqueles que foram batizados e acreditam em Cristo estão em comunhão com a Igreja católica, embora essa comunhão não seja ainda perfeita. Existem muitas dificuldades para a total comunhão: são diversas diferenças muito graves entre eles e a Igreja católica, a respeito da doutrina, da disciplina e da organização da Igreja. Ora, o movimento ecumênico tem por finalidade superar essas barreiras. No Batismo, nossos irmãos são justificados pela fé e fazem parte do Corpo de Cristo. Por isso, têm a honra de se chamar cristãos com muita razão, e merecem que os filhos da Igreja católica os reconheçam como irmãos no Senhor... É necessário lembrar que fora da Igreja católica podem existir muitos bens importantes que, juntos, fazem a Igreja crescer e se tornar mais viva. Esses bens são: a Palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança, a caridade e outros dons espirituais que o Espírito Santo transmite. Existem ainda vários elementos visíveis. Todas essas coisas que vêm de Cristo e para ele levam pertencem à única Igreja de Cristo“ (UR, 2).
Com essas afirmações entendemos que a Igreja de Cristo é uma só do ponto de vista espiritual e invisível. Não existem várias Igrejas, pois, o mistério é único. Mas do ponto de vista material e visível a Igreja é formada de várias Igrejas e Comunidades cristãs, pois a comunhão entre todos os cristãos ainda não é perfeita. Faltam muitas coisas para que essa comum união seja completa. Chamamos de “Igreja” somente aqueles grupos cristãos que possuem o Sacramento da Ordem, onde os Bispos são ordenados segundo os critérios da antiga Tradição cristã que remonta aos Apóstolos. É completa a Igreja que tem como cabeça visível um Bispo de origem apostólica. Os grupos que não possuem Bispos são chamados de Comunidades eclesiais, isto é, pertencem à Igreja, mas não são Igrejas completas. Assim, a Igreja é única e unida interiormente, mas múltipla e dividida exteriormente...
O mundo só consegue enxergar o que é material e jamais pode ver nossa misteriosa Unidade. Assim, para que o mundo creia que Deus o amou a ponto de lhe enviar seu Filho único é preciso que a Igreja se manifeste unida. Foi exatamente isso que Jesus disse: “Que todos sejam um para que o mundo creia” (Jo 17, 21). A grande razão da descrença no mundo é a divisão dos Cristãos.