IGREJA E SALVAÇÃO - Pe. Paulo Gozzi, SSS
Até há pouco tempo costumávamos dizer que as celebrações dos protestantes não tinham qualquer valor. Não podemos mais afirmar isso porque não é verdade e é uma grande injustiça e ignorância em relação aos planos de Deus. A graça da salvação faz parte do mistério de Cristo e quando falamos em mistério devemos reconhecer que os caminhos de Deus são maravilhosos e incompreensíveis aos nossos olhos. Crescendo na compreensão das verdades reveladas no Evangelho, a Igreja católica hoje afirma o valor santificador do culto dos outros cristãos. Eis mais alguns trechos do Decreto sobre o Ecumenismo, que todo verdadeiro católico deve conhecer e acolher: “Os irmãos separados de nós fazem muitas celebrações sagradas. Não duvidamos que essas celebrações produzem realmente a vida da graça, de diferentes modos e conforme a situação de cada Igreja ou Comunidade. Afirmamos com certeza que elas são capazes de abrir as portas da salvação para os que vivem em comunhão com Deus e com os irmãos”. “Acreditamos que faltem algumas coisas importantes nessas Igrejas e Comunidades. Mesmo assim, elas têm grande importância e significado dentro do mistério da salvação. O Espírito Santo usa essas Comunidades como instrumentos de salvação, cuja força vem da graça completa e da verdade total que Jesus entregou à Igreja universal”. “A Sagrada Escritura e a antiga Tradição da Igreja falam da unidade que Jesus Cristo deu aos discípulos. Por meio de Jesus, todos nasceram de novo e possuem uma vida nova, formando um Corpo único... Os que pertencem ao Povo de Deus precisam estar completamente ligados a esse Corpo que caminha e cresce sempre na terra. Mesmo sendo pecador, esse povo é conduzido suavemente por Deus para a Jerusalém celeste e alcançará a glória eterna com muita alegria. É o que Deus quer!” (UR 3). Jesus nos diz que o Espírito Santo sopra aonde quer e como quer. Ele não pode ficar dependendo de nossa estreiteza mental, de nossa arbitrária interpretação da Bíblia ou de nossa ignorância ao agir. O Concílio quer que nós, católicos, aprendamos a reconhecer a graça de Deus que atua nos cristãos não-católicos. Com o tempo, o conhecimento da Verdade escondida no mistério de Deus vai aumentando em nós. Pensávamos que só nós éramos Igreja, que fora de nossa Igreja não havia salvação e que a salvação dependia de estruturas humanas e externas, como papa, bispo, padre, sacramentos e leis, e que o Espírito Santo era propriedade particular dos católicos! Agora sabemos que a Igreja, instrumento da graça e da salvação, é antes de tudo mística e espiritual, e abrange todos os batizados: católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes em geral, com todas as suas divisões, desde as Igrejas históricas (ortodoxa, luterana, metodista e presbiteriana) até as Comunidades cristãs chamadas “livres” (batistas, adventistas, pentecostais e neopentecostais). Essas Comunidades Livres não aceitam o batismo infantil (são anabatistas) e, por isso, costumam batizar de novo quem já foi batizado em criança. É preciso lembrar que esse segundo batismo não tem qualquer valor espiritual, pois, é inútil e supérfluo, feito por ignorância e visão tacanha da parte deles. Vale sempre o primeiro batismo, seja em que Igreja ou Comunidade for. O que o Concílio ensina é que as orações, a proclamação da Palavra de Deus, a Santa Ceia, o Batismo e todas as outras celebrações realizadas por nossos irmãos cristãos, independentemente da autenticidade, da dignidade ou da boa fé dos ministros (há tantos charlatães!), têm o poder de transmitir a graça do Espírito Santo, incluindo a salvação eterna. O povo não tem culpa dos maus líderes religiosos. Deus utiliza esses canais defeituosos para fazer passar suas bênçãos. A Igreja e a salvação também chegam até os que pertencem a religiões não-cristãs ou em nada acreditam. Tudo depende da sinceridade de seus corações quando buscam a Verdade. Aí está o mistério do amor misericordioso de nosso Deus e de nosso Salvador Jesus Cristo!