A BELEZA DE SER DIFERENTE - Pe. Paulo Gozzi
Há coisas que as pessoas nunca aprendem: respeitar e valorizar as diferenças, ver a riqueza da grande variedade de modos de pensar, de ser e de agir, admirar a beleza de ser diferente, sem nunca querer ser igual ao outro ou obrigá-lo a ser igual a nós. As brigas e divisões entre os cristãos aconteceram justamente por causa dessa estupidez. Somente agora descobrimos que diferença não separa, mas enriquece e mostra a beleza do mistério de Deus em nossa vida. Cada um vê Deus de modo diferente, não existe ninguém igual. Sendo universal, a revelação de Deus atinge a todos e respeita suas diferenças, sem obrigá-los a se igualar uns aos outros. Por querer enquadrar todo mundo dentro de seus padrões é que governos e organizações religiosas provocam tanto sofrimento, exclusão, marginalização, perseguição e até morte!
Nossa Igreja finalmente abriu os olhos para enxergar essa realidade. Tentando reparar hoje o mal que fez no passado, incentiva todos os cristãos a caminharem juntos, sem precisar ser iguais, olhando suas diferenças como riquezas, como maneiras diferentes de expressar e viver a mesma fé, comprometendo-se a ser unidos nas coisas essenciais, tendo liberdade para pensar e agir de modo diverso nas coisas secundárias, mas tendo caridade em tudo.
Há dois tipos de divisão: O primeiro é entre cristãos ocidentais e orientais, há mil anos atrás. O segundo é entre os próprios cristãos da Europa ocidental, no movimento chamado de Reforma, há 500 anos atrás. Todos, porém, pertencem à mesma e única Igreja de Cristo.
O Decreto sobre o Ecumenismo (Unitatis Redintegratio) fala dos Orientais (ortodoxos) com muito amor: “A Igreja do Ocidente recebeu desde o começo como herança um tesouro que as Igrejas do Oriente possuem, a respeito da liturgia, da tradição espiritual e das leis importantes para a organização da Igreja. As grandes verdades da fé cristã sobre a Trindade e a Palavra de Deus, que se fez carne no seio da Virgem Maria, foram definidas nos Concílios Ecumênicos realizados no Oriente. Aquelas Igrejas sofreram muito e ainda sofrem para manter essa fé. A herança que os Apóstolos deixaram foi aceita de forma diferente e, desde o começo da Igreja de lá e de cá, essa herança foi explicada de várias maneiras, principalmente por causa da diferença de cultura e de condições de vida. Tudo isso foi desculpa para a separação, além de influências vindas de fora da Igreja e ainda por falta de compreensão e de caridade das duas partes” (UR, 14).
Quando eu estudava na Suíça, no curso de especialização ecumênica, patrocinado pelo Conselho Mundial de Igrejas, perguntei a um padre ortodoxo, meu colega de estudo, como ele achava que deveria ser a união dos cristãos no futuro. Ele respondeu com a maior tranqüilidade: “Todos deverão ser iguais a nós, ortodoxos, tendo a mesma maneira de pensar, os mesmos rituais litúrgicos e até o mesmo modo de se vestir!” Não sei se ele mudou de opinião, mas achei aquilo um absurdo, ridículo até! Apesar de admirá-los, não quero ser como eles! Há também católicos que pensam que os protestantes devem ser como nós para haver união: Que mesquinharia! Aquele padre e esses católicos só vêem beleza em si mesmos. São incapazes de admirar a beleza dos outros sem precisar ser igual. Sobre as Igrejas ortodoxas o Concílio diz: “Declaramos que todo esse grande tesouro espiritual e litúrgico, disciplinar e teológico, presente nas diversas tradições, faz parte da vida católica e apostólica da Igreja” (UR, 17). Depois de valorizar a beleza de ser ortodoxo, o Concílio termina dizendo: “Vivendo o ideal ecumênico com entusiasmo, esperamos derrubar o muro que separa a Igreja ocidental da oriental e que seja erguido um único prédio assentado sobre a pedra principal da construção, Jesus Cristo, que fará das duas uma só” (UR, 18). Podemos ser unidos sem deixar de ser o que cada um de nós é...