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"Ofereço tudo a Deus pelo povo angolano” - Testemunho de Ir. Matilde escrito por: Ir. Ana Elídia

Por: Família Missionária

 

 

"Como é importante tentar viver bem o momento presente, amando em cada situação. Por isso fico tranquila e morro feliz por ter sido missionária em Angola". Ir Matilde 

 

 

Há muitas maneiras de ser missionário(a). Santa Terezinha nunca saiu do convento e se tornou padroeira das missões ao lado de São Francisco Xavier que evangelizou a Ásia. Uns evangelizam pelas obras, outros pela atitude e outros ainda pelo sofrimento.  Ir. Matilde Eremita de Souza, Missionária Serva do Espírito Santo, nos 22 anos que viveu em Angola, conheceu de perto a guerra e o sofrimento do povo. De família mineira e fervorosa, abraçou a vocação religiosa. Estudou enfermagem e trabalhou em hospital antes de ser enviada para Angola.  Lá viveu em Luanda, N’zeto e Kindege.

Especializou-se no tratamento da doença do sono, causada pela mosca tsé-tsé, e a partir de 1996 viajou por todo o país, treinando agentes de saúde e tratando os doentes. Ela conta que numa determinada área havia 48 aldeias com cerca de 25 mil habitantes, a maioria contaminada. O tratamento era muito perigoso, mas “nunca morreu um doente do sono atendido por nós, enquanto que, antes, morriam como moscas na estrada”.

Estava muito feliz em sua missão quando, há quatro anos, aconteceu uma reviravolta que a obrigou a deixar Angola. Uma enfermidade desconhecida consumiu sua perna direita e provocou  uma  infecção  generalizada.
Nem os médicos entendem como sobreviveu. Depois vieram as seqüelas agravadas pelas centenas de malárias que contraiu na missão. Os rins pararam de funcionar e ela passou a depender de hemodiálise três vezes por semana.
Entusiasmada pela vida como sempre foi, e decidida a retornar para Angola, Ir. Matilde empenhou toda sua energia na tarefa de recuperação e se inscreveu na lista de espera para um transplante. Apesar de ter feito tudo o que era possível, os resultados não foram os desejados. Da hemodiálise, Ir. Matilde passou à diálise peritonial. Além de diabetes, o coração também começou a apresentar problemas e a possibilidade do transplante foi se tornando cada vez mais remota até ser totalmente descartada. Mesmo assim, Ir. Matilde não perdeu a alegria e o gosto pela vida e partilha sua experiência e o que significa para ela ser missionária.
Alegria da missão
“Todo o tempo que vivi em Angola foram anos de muita alegria, não tanto pelo que pude fazer, mas por estar junto daquela gente, vivendo com eles na dor, na alegria, no sofrimento e na festa. Durante anos, por causa da guerra, não podíamos falar, mas podíamos ser presença. Foi uma experiência forte e gratificante.”
Viver bem cada momento
“Hoje, sinto que ser missionária é aqui e agora, mesmo numa cadeira de rodas, e procuro assumir com muita fé e amor. Ofereço tudo a Deus pelo povo de Angola e pelo povo do Brasil. Não é nem falando de Deus ou fazendo pregação, mas vivendo bem cada momento e é estando atenta que a gente percebe o que precisa fazer, mesmo dentro da limitação física.”
Fazer o que é possível
“Já salvei a vida de muita gente... Não tenho a mínima idéia de quantas. Para todos que chegavam, tentávamos fazer tudo o que era possível e por milagre divino, as pessoas se salvavam. Era todo tipo de miséria e doença, eram os feridos de guerra, os refugiados que tentavam voltar... eram trapos humanos e tentávamos fazer tudo o que podíamos. Nos metíamos por todo canto, apresentando relatórios e pedindo auxílio.”
Doar a vida
“Na medida em que tentei viver bem, atenta à situação dos outros e da realidade, acho que dei a vida no trabalho em Angola. No hospital em Belo Horizonte também. As pessoas me dizem que sou diferente, que mesmo do jeito que estou, transmito alegria e paz... A gente tem que dar a vida é nas coisas pequenas, porque pode ser que não cheguem as grandes.”
Maior realização
A doença da Ir. Matilde está sendo uma oportunidade de presença missionária nos hospitais e até mesmo com as pessoas que lhe prestam auxílio, como o caso do taxista que se ofereceu para transportá-la, porque se sentia bem em sua companhia. Em outras ocasiões, dois companheiros de hemodiálise só não morreram de coma diabético porque ela estava atenta e insistiu com os médicos.
Custa muito para Ir. Matilde saber que nunca mais voltará a Angola, que sem dúvida foi sua maior realização na vida. Contudo, assume com coragem sua realidade presente e diz - “quando olho esses anos de missão, fico pensando como é importante tentar viver bem o momento presente, amando aquele povo em cada situação. Por isso fico tranqüila e morro feliz por ter sido missionária em Angola”.
Extraído do Jornal Vida Missionária Edição 55
Artigo escrito por Ir. Ana Elídia Caffer Neves SSpS
“Ir. Matilde celebrou este Natal na Casa do Pai, no coração da Trindade. Ela nos deixou nesta terça-feira, dia 22, deixando-nos um belo exemplo de vida e de santidade. Ir. Matilde queria muito viver, mas dizia que estava preparada para quando Deus a quisesse chamar. Lutou até o fim, submetendo-se a uma cirurgia de alto risco, pois seu coração estava muito fraco. Sobreviveu uma semana à cirurgia, mas depois de várias paradas cardíacas, não foi mais possível reanimá-la. A missa de corpo presente aconteceu na quarta-feira dia 23, no Convento Santíssima Trindade com a participação de seus familiares, das irmãs de sua comunidade e comunidades próximas e de seus amigos. Foi um momento muito significativo em que todos nos sentimos tocados. Agora sabemos que temos uma intercessora junto de Deus.”
 

Ir. Ana Elídia
26/12/2009

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